O missionário – Capítulo 3 – Alberto Dinys | Bem-aventurado os que têm fome e sede de justiça, pois serão saciados. Mateus 5.6
Quando Levi tentou abraçar a sua tia, Leonice bradou com raiva:
— Eu não gosto de você, moleque! Eu te odeio! Entendeu? Eu te o-dei-o! E isso tá explícito em todo o meu ser neste momento, cara!
Levi disse mantendo-se calmo:
— Tia, eu compreendo o porquê do seu estresse!
Mas Leonice estava irredutível. Comentou:
— Entende nada, mano! Só entende de Deus, Bíblia, louvores. Nem de mulher você entende.
Riu com deboche e logo depois tossiu já com uma expressão de dor na sua face magra e com muitas rugas. Os dentes dela eram amarelos demais. Continuou com a voz rouca de fumante:
— E nem adianta dizer que entende de mulher, porque eu sei que você não entende. Mas se quiser entender a partir de hoje, eu posso te ajudar. Te inserir num mundo com várias e várias possibilidades tentadoras. Irresistíveis. Só se você desejar, óbvio!
— Não quero! — afirmou Levi com segurança na sua oratória eclesiástica. — Como um missionário que adora o Senhora Jesus, é incongruente me degradar como um imoral!
Então, aproveitando para zombar mais do sobrinho, Leonice gargalhou alto e então levantou o vestido velho, suado, mostrando os seus seios caídos, enrugados também. E no mesmo instante que ela fez este ato insano, Levi virou o rosto para não ver a nudez da tia.
— Olha eu aqui, mano! Eu sou prostituta! E não vou me converter nunca. Nun-ca. É melhor você pegar o teu rumo e me fazer a gentileza de nem entrar mais em contato comigo. Porque eu sou perigosa. Eu sou perigosa, cara! Eu ando armada! E eu não tô falando só de revólver não. Só tô avisando! Eu posso fazer muitas loucuras! É melhor não me provocar! É um aviso! E eu sou drogada!
Levi disse com o rosto ainda virado para não olhar os seios da tia e também a vagina que estava à mostra.
— Recomponha-se! Eu lhe peço! Lembre-se da minha mãe! Ela era uma irmã que amava muito a senhora! Eu acredito que os princípios ainda são importantes na vida de todo o ser humano!
Então, Leonice se recompôs com muita tristeza nos olhos. Comentou em um tom melancólico:
— Eu não era assim.
Fez uma pausa por uns trinta segundos enquanto buscava forças para continuar expressando-se. Então, disse:
— Com o tempo a gente se atreve a não lutar por diversas vezes. E não lutando por um ideial, corre-se o risco de potencializar a amargura nesta vida tão marcada por desigualdades. Corre-se o risco de flertar com o que é negativo. Corre-se o risco de se curvar diante dos problemas. Corre-se o risco de cultivar a deterioração com esmero. Que terrível!
Já com os olhos marejados, Levi pediu:
— Vem comigo, tia! Eu sei que a gente já se deu muito bem no passado. Mas não partiu de mim a ideia de manter esta atmosfera ruim.
Respirou fundo. Aconselhou:
— Volte a sorrir com satisfacação. E não apenas por conveniência. Volte a cultivar o que é coeso. O que é gracioso. Eu ainda quero ver a senhora elegante, conversando em francês. Cuidando do seu jardim com muita, muita alegria. Mas eu não posso viver a vida da senhora.
Leonice abaixou a cabeça sentando-se envergonhada. Afirmou com a voz triste:
— São tantas as desilusões! São tantos os arrependimentos! Eu me sinto vazia! Eu me sinto feia!
Levi disse:
— É tempo de milagres! É tempo de transformação! Nada é impossível para Deus!
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