“Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai que está no céu; porque Ele faz nascer o sol sobre maus e bons e faz chover sobre justos e injustos.”
Mateus 5.43-45
Dom sorriu amigavelmente. Disse:
— O homem é repleto de incongruências. Mas, ainda assim, Deus o ama. Amém! É o amor de Deus que não tem limites. O amor do Pai não se limita às expectativas humanas. É divino! É sobrenatural! É inspirador! O amor de Deus é vida!
— Não é fácil — comentou Enzo com o olhar angustiado. — Não é fácil querer parar de fazer o que é nocivo e não conseguir. Entende? É uma batalha espiritual! Eu sei como funciona isso.
— Se sabe como é real o mundo espiritual, por que a insistência em se comportar como um ateu? — perguntou Dom. O olhar firme.
— Que pergunta, hein!
— Te espanta?
— Um pouco.
— Não deveria te espantar.
— Eu sei. Mas é uma pergunta que me espanta. E eu entendo o seu posicionamento, Dom!
— Por que fugir do seu chamado? Deus te ama, Enzo! Por que ficar prostrado diante dos pecados que são ilusões passageiras? Ilusões que… que matam. Não se iluda tanto com os olhares sedutores de uma mulher boêmia. Nem com as doces palavras daquelas que não te amam. Nem pretendem te amar. As propostas mundanas não são saudáveis para o homem que deseja servir a Deus com integridade. Lembre-se disso!
— Você é um sábio, Dom! Um sábio deste século. Parabéns!
— A sabedoria de Deus, realmente, Enzo, nos envolve poderosamente, quando nos colocamos à disposição do Seu Supremo Amor.
— É tão fácil pra alguns. Já pra outros é uma luta. Um sacrifício.
— O homem que busca a Deus enfrenta vários desafios ao longo da caminhada cristã. Não pense que se manter na fé é um mar de rosas. Deus nos sustenta. Mas… as tempestades assolam os cristãos por diversas vezes. Muitos pensam em desistir. Muitos desistem. Porém, se Deus É o Criador dos céus e da terra, por que temer o pior se Ele nos ama com intensidade? Hein? É preciso confiar no Senhor! É preciso adorá-lo mesmo quando as circunstâncias estão desfavoráveis! É preciso proclamar o poder de Deus às pessoas!
— Eu me envergonho de me comportar assim. Sabe? Como… como um rebelde ridículo. Que… que quer chamar a atenção dos pais e se mete em cada enrascada. Que se acha o cara e não passa de uma marionete nas mãos dos que não apenas influenciam para o mal, mas que conduzem literalmente os mais suscetíveis às práticas infames. O preço é caro, Dom! Muito caro.
— Quem te apresentou às drogas?
— Por que você quer saber?
— Porque é importante você detectar logo quem é a pessoa que não tá nem aí pra tua saúde física. Muito menos a espiritual.
Enzo desviou o olhar um pouco nervoso.
— Não importa. Deixa isso pra lá, Dom! Vai brigar com o cara?
— Não. Claro que não!
— Então por que você quer saber quem é o cara? Deixa isso quieto!
— Tem certeza que não quer me dizer quem é o cara?
— Tenho! Deixa o cara pra lá, Dom! Ele é perigoso!
Então, Dom deu um sorriso discreto não se sentindo intimidado com a afirmação de Enzo.
— Perigoso mesmo?
— Demais!
— É?
— É. Tô te dizendo, Dom! O cara é mó vilão!
Dom riu. Enzo, não entendendo o motivo da risada dele, o olhou com estranhamento.
— Ele já te ameaçou alguma vez?
Enzo hesitou em responder a pergunta. O olhar dele denotava medo.
— Responda.
— Por que você quer saber disso, hein?
— Porque ser ameaçado por um cara que vende drogas não é legal!
Enzo respirou fundo.
— Já.
Dom o olhou com preocupação. Franziu a testa.
— E?
— E… tipo… não aconteceu nada demais. Entende? Tipo… é o jeito dele mesmo. Entende? Ele bota moral na balada e tal. Ele é assim mesmo! Ele mesmo diz que ele tem que meter medo nos caras. Pro pessoal respeitar a pessoa dele e tal.
— Te ameaçou de morte?
Enzo arregalou os olhos.
— Mor… morte?
— É. Ele já te ameaçou de morte?
— Já.
****
Enquanto estava ajeitando alguns livros de estudo na estante, Laura lembrou de quando namorava com Enzo. De quando ele frequentava a igreja e tinha uma comunhão muito forte com Deus. Enzo amava evangelizar as pessoas. Falava de Jesus Cristo com uma fé admirável, inspiradora. O olhar dele resplandecia. O sorriso dele alegrava aqueles que estavam por perto e se beneficiavam de tanta força espiritual que emanava do jovem.
Um belíssimo louvor de adoração ao Senhor ecoava naquela biblioteca. E Laura não conteve as lágrimas. Porque ela acreditava no amor. E no fundo, desejava ser a esposa de Enzo. Mas ele a cada dia se afastava mais e mais dos caminhos do Senhor e se entorpecia dos manjares pagãos.
“O que fazer, meu Deus?”
“Será se já é o fim?”
“Por que tá tudo tão complicado?”
“Me ajuda, meu Deus!”
“Liberta ele das drogas, Senhor! Eu te clamo pela libertação dele, Pai! Eu te clamo por misericórdia!”
“Pedi, e vos será dado; buscai, e achareis; batei, e a porta vos será aberta. Pois todo o que pede, recebe; quem busca, acha; e ao que bate, a porta será aberta. Quem dentre vós, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, se lhe pedir peixe, lhe dará uma cobra? Se vós, sendo maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está no céu, dará boas coisas aos que lhe pedirem!”
Mateus 7.7-11
Quando escutou estes versículos lidos com fé (com ênfase também) por um reconhecido pastor, televangelista internacional, olhou surpresa na direção da televisão que estava ligada sem ela perceber. Afirmou com um sorriso:
— É Deus falando comigo por meio da Sua Santa Palavra! Amém! Aleluia! Que lindo! Que lindo, Senhor!
****
Naquela belíssima manhã ensolarada, dona Eleonice contemplava o jardim airoso pela imensa janela da sala. Ao lado dela, Pierre, o neto, já arrumado, mostrava-se interessado em contemplá-lo também.
— Realmente, é muito renovador se conectar com as belezas naturais, querido! — afirmou a avó elegantíssima. Segurava um leque comprado em Veneza. — É divino! É inspirador!
— Com certeza, vovó!
Ela sorriu levemente para o menino.
— Em breve será lançado um livro de orações,
reflexões espirituais, que… eu escrevi durante este ano.
— Ah! Que legal!
— Sim. Muito legal, querido!
— É divertido escrever, vovó?
Ela riu com suavidade.
— Sim, sim. Divertido, sério e uma esplêndida maneira de evangelizar por meio de textos inspirados por Deus.
— E a senhora consegue escutar Deus, vovó?
— Sim.
— Como?
— Quando eu oro com fé, Ele fala comigo. Quando eu oro buscando-o com amor. Quando eu clamo pela sabedoria do Senhor com humildade. Com satisfação. Com uma relevante veemência.
— Mas… a senhora pode me contar como é a voz de Deus?
— Sim. Eu posso.
— Como é a voz de Deus, vovó?
— A voz de Deus é sobrenatural! Meiga, poderosa, agradável de escutar.
— Tudo isso?
— É. Ele é Maravilhoso!
— É mesmo!
Então, Pierre sorriu com muita alegria para dona Eleonice.
— Por isso que a senhora me leva à igreja? Pra eu escutar a voz de Deus também?
Sentindo-se mui emocionada ao ver a feição doce do neto, dona Eleonice inclinou-se levemente e beijou-o na testa. Respondeu com afabilidade:
— Sim. Quando você vai à igreja, Pierre, Deus fica muito, muito feliz com você! Lembre-se disso! Deus te ama, querido! Ele te ama muitíssimo!
— É mesmo? — perguntou o menino com um sorriso no rosto. Os olhos brilhavam demais.
— É — respondeu dona Eleonice e pegou a Bíblia que estava em cima do aparador. — Eu vou ler para você como Jesus nasceu.
— Êba! — comemorou Pierre com um entusiasmo eclesiástico descomunal para uma criança de oito anos. — Leia a passagem bíblica que relata o nascimento de Jesus Cristo, O Salvador. Por favor, vovó! Depois leia sobre os magos do Oriente que foram adorar o então menino Jesus.
Envolta por aquela atmosfera divina, dona Eleonice fez um cafuné no neto e abriu a Bíblia com muito temor. Com uma notável destreza ao manusear as Sagradas Escrituras.
“O nascimento de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava comprometida a casar-se com José. Mas, antes de se unirem, ela achou-se grávida pelo Espírito Santo. José, seu marido, era um homem justo e não queria expô-la à desgraça pública. Por isso, decidiu separar-se dela secretamente. Tendo José isso em mente, um anjo do Senhor aparaceu-lhe em sonho, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado é do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, a quem darás o nome de Jesus; porque Ele salvará seu povo dos seus pecados. Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor havia declarado pelo profeta: A virgem engravidará e dará à luz um filho, a quem chamarão Emanuel, que significa: Deus conosco. Despertando do sono, José fez o que o anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu sua mulher; mas não a conheceu na intimidade enquanto ela não deu à luz um filho; e deu-lhe o nome de Jesus.”
Mateus 1.18-25
Fez uma pausa na leitura bíblica. Sorriu para o neto que a escutava com muita atenção. E então, voltou a ler o Livro Sagrado, agora, o capítulo 2 de Mateus.
“Depois de Jesus ter nascido em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, vieram alguns magos do Oriente a Jerusalém, perguntando: Onde está o rei dos judeus recém-nascido? Vimos sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo. Ao saber disso, o rei Herodes perturbou-se, e com ele toda a Jerusalém. Depois de convocar todos os principais sacerdotes e os mestres do povo, perguntou-lhes onde deveria nascer o Cristo. Eles responderam: Em Belém da Judeia; pois assim está escrito pelo profeta: E tu, Belém, terra de Judá, de modo nenhum és menor entre as principais cidades de Judá; porque de ti sairá o Guia que conduzirá meu povo Israel. Então Herodes chamou secretamente os magos e procurou saber deles com precisão quando a estrela havia aparecido. E, enviando-os a Belém, disse-lhes: Ide e perguntai cuidadosamente sobre o menino. Quando o achardes, avisa-me, para que eu também vá adorá-lo. Depois de ouvirem o rei, partiram; e a estrela que tinha visto no Oriente foi adiante deles, até que parou sobre o lugar onde o menino estava. Ao verem a estrela, os magos ficaram extremamente alegres. Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram. Depois, abrindo seus tesouros, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra. Sendo avisados em sonho para não voltar a Herodes, regressaram para sua terra por outro caminho.”
Mateus 2.1-12
****
— Ele ainda mexe com você, filha? — indagou dona Eleonice com muita calma no falar.
— Sim — respondeu Laura. O olhar sincero. — Eu o amo com uma intensidade que… que, sendo muito honesta, por diversas vezes, me deixa sem rumo. Sem… a capacidade de agir com a racionalidade esperada de uma mulher de Deus.
— Você não é perfeita!
— Realmente, eu não sou perfeita, mãe! Mas eu não posso me comportar como uma adolescente apaixonada.
— Você ainda é nova!
— Sim.
— E a maturidade vem com o tempo, filha! Com o tempo.
— Eu não quero ficar errando e errando como se eu tivesse todo o tempo do mundo. Não. Chega! Eu não quero ser tão insana.
— Amar não é uma insanidade! — afirmou dona Eleonice aproximando-se da filha. Sorriu. — E o amor quando é sincero… ele exige do homem e da mulher uma resiliência baseada na fé em Deus. Porque o amor é um sentimento criado por Ele. Então, saiba que a inveja existe mesmo. E quem inveja o amor de um homem e uma mulher, se opõe a realização amorosa de um casal que honra a Deus.
— Que triste saber que várias pessoas se entregam a inveja. Ao ódio. É muito triste, mãe!
— É assim, filha! Mesmo que a Palavra de Deus seja proclamada com fé às nações, nem todos a aceitam com humildade. Com alegria. Muitos preferem rejeitar a Deus e se curvam diante de Satanás.
— É. É horrível pensar que… que várias pessoas pessoas promovem o horror movidos por uma gana satânica.
— Filha…
Dona Eleonice fez um leve carinho no rosto de Laura. Continuou:
— Acredite no amor! Acredite na beleza do amor! Deus quer que o homem e a mulher se amem mutuamente. É o plano divino de Deus para um casal que valoriza o amor!
— Eu acredito no amor, mãe! Mas…
— Mas…?
— Tá difícil seguir acreditando que o Enzo vai ser transformado assim… logo.
— Não duvide do poder de Deus, filha!
— Eu não duvido do poder de Deus, mãe! Mas o Enzo não tá disposto a mudar. E eu… eu não posso ficar esperando por ele a vida inteira.
Instagram: @albertodinys__