Aumento do batimento cardíaco, aceleração da respiração e contração muscular são reações comuns de quem se encontra em um estado de medo. A sensação de alerta extremo é importante para a sobrevivência dos seres e ocorre quando, por alguma razão, o indivíduo se sente ameaçado. O halloween é um momento interessante para a análise do medo, visto que nele, figuras aterrorizantes do imaginário humano são colocadas em evidência.
Além de vampiros, bruxas e fantasmas, no halloween, é fácil de encontrar pessoas vestidas de palhaços, seja a versão boa, que tem por objetivo causar risadas, ou a versão assustadora, que serve de inspiração para sucessos cinematográficos de terror no mundo inteiro. Afinal, por que temos tanto medo de palhaço? O neurocientista com formação em neuropsicologia, Dr Fabiano de Abreu acredita que a natureza ambígua do palhaço seja a responsável pelo terror causado por ele. “A figura do palhaço se enquadra no famoso ditado ‘lobo em forma de cordeiro’. Pois, por não sabermos o que está por trás daquela máscara, o nosso cérebro ativa um sinal de alerta de perigo diante deles”, detalha.
O neurocientista também defende que o medo de palhaço pode ter raízes mais profundas que são alimentadas pela própria ideia de deboche e desconforto intrínsecas às atitudes de um palhaço. “São personagens espalhafatosos, que gostam de zombar das outras pessoas com brincadeiras que não inspiram conforto e segurança. Geralmente, eles acabam amedrontando as crianças com essas atitudes e se tornam um símbolo de terror”, afirma.
Para reverter a ideia de que o palhaço é um ser perigoso, é importante que as famílias ensinem às crianças a enxergarem o personagem como alguém divertido e que traz coisas boas. “Pode ser algo parecido com o que acontece com o Papai Noel no Natal. Mesmo com a fantasia, o cérebro traz aquela ideia de um bom velhinho, um idoso não vai fazer mal que não vai fazer mal”.
Por que temos tanto medo de palhaço?
O halloween é uma época interessante para a análise dos nossos medos mais irracionais. Durante esse período, figuras aterrorizantes conhecidas desde a infância são colocadas em evidência e, por vezes, podemos perceber que tais desconfortos emocionais ainda são carregados por nós, mesmo quando adultos.
O medo é uma sensação natural do ser humano. Quando, por algum motivo, você se sente ameaçado, o seu cérebro libera impulsos que te fazem entrar em um estado de alerta extremo e, em uma situação de perigo iminente, é esse estado que pode salvar a sua vida. Porém, por que essas sensações são ativadas por figuras como vampiros, bruxas e palhaços?
A resposta para isso pode estar dentro da ciência. Acredita-se que figuras ambíguas causam muito mais medo do que as que são abertamente ruins. O palhaço, por sua vez, se encaixa na definição de “lobo na pele de cordeiro”, afinal, você não sabe quem está por trás daquela máscara e nem quais as suas intenções. Assim, é fácil criar uma atmosfera de inseguranças e terror ao redor do personagem.
Além disso, o palhaço é comumente associado a situações de desconforto. É um ser espalhafatoso que gosta de zombar das outras pessoas e isso pode fazer uma criança crescer com bloqueios quanto a essa figura, já que, no subconsciente dela, o palhaço causa vergonha, insegurança e desconforto para quem ele escolhe como “vítima”.
Desconstruir o terror em torno da figura do palhaço, porém, é fácil. Nós já fazemos isso com o Papai Noel no Natal. Mesmo que ele também use fantasias, na nossa imaginação ele é um bom velhinho e incapaz de fazer nenhum tipo de mal. Então, não ter medo dos personagens do halloween, também pode ser ensinado desde cedo.
Raphael Lucca – MF Press Global