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Novo suposto espião russo no Brasil emitiu identidade no país em 2016 e fez negócio com a Marinha

Apontado como um espião russo no Brasil pela Grécia, segundo a imprensa europeia, o homem que dizia ser Gerhard Daniel Campos Wittich emitiu seu primeiro documento brasileiro em fevereiro de 2016.

Dois anos depois, ele fundou uma empresa de impressão 3D no Rio de Janeiro que recebeu R$ 27 mil de órgãos do governo federal brasileiro entre 2020 e 2022 para a realização de serviços gráficos.

O principal cliente dele no governo federal foi a Marinha. Em 2020, o Centro Tecnológico do Corpo de Fuzileiros Navais fez três encomendas à empresa que somaram R$ 14,3 mil. A Polícia do Exército também solicitou uma imagem de 80 cm de uma cobra, mascote da unidade, por R$ 3.500. O maior pedido foi feito pelo Ministério da Cultura: 500 batoques para rolos de película cinematográfica por R$ 8.500.

A Marinha afirmou, em nota, que “adquiriu serviços ocasionais relativos a suprimentos para impressão na empresa 3D Rio durante as operações de enfrentamento à Covid-19”. “Os produtos adquiridos, portanto, não comprometeram o sigilo e a segurança das operações da Marinha.”

A 3D Rio funciona no centro da cidade, a alguns metros da sede do consulado americano. Ela segue funcionando, mas há apreensão entre os funcionários sobre a continuidade da firma desde o sumiço de seu dono. De acordo com as informações publicadas pelo jornal The Guardian, ele é casado com Irina Romanova Shmyrev, também identificada como uma espião russa que atuava na Grécia.

Ambos desapareceram no início do ano de seus locais de moradia, deixando para trás namorados, amigos e funcionários que fizeram e contrataram durante o período em que viveram nesses locais.

O homem que se apresentava como Wittich namorou uma servidora pública federal. Ele dizia ser brasileiro com ascendência austríaca, tendo sido criado em Viena, o que seria a razão do forte sotaque. Ele viajou à Malásia no início de janeiro para, em tese, fazer um curso de impressão 3D. Depois, não deu mais notícias.

Namorada e amigos passaram a fazer uma campanha na internet em busca de informações. O Itamaraty foi acionado e confirmou que um homem usando o nome do empresário se hospedou no hotel indicado pelos amigos brasileiros. Contudo, depois de deixar o estabelecimento, não deixou mais rastros.

O primeiro registro no Brasil é a emissão de sua carteira de identidade, em fevereiro de 2016, pelo Detran-RJ. Em nota, o órgão afirmou que “está à disposição para fornecer informações às autoridades encarregadas da investigação”. Dois anos depois, o empresário emitiu uma carteira de motorista.

Ao reenquadrar a firma como de pequeno porte, em 2020, declarou morar num apartamento no bairro de Botafogo, na zona sul da cidade. Procurado, o proprietário do imóvel não quis comentar o assunto.

A empresa é ativa nas redes sociais e conhecida no mercado de impressão 3D. Num dos últimos posts, divulgou bonecos em miniatura do apresentador Marcos Mion exibidos no programa “Caldeirão”, da Globo.

O suposto espião apresentava uma carteira de identidade tendo como nome da mãe a brasileira Fátima Regina Campos Monteiro, e o pai, o austríaco George Wittich. Caso confirmada a atuação do empresário como espião, esse será o segundo caso de um agente russo usando uma identidade brasileira. Serguei Vladimirovich Tcherkasov está preso na carceragem da Polícia Federal em São Paulo sob acusação de falsidade ideológica. Ele foi condenado a 15 anos de prisão pela 5ª Vara da Justiça Federal de Guarulhos.

Tcherkasov, 39, foi detido em abril de 2022 por autoridades holandesas por usar documentos de identidade falsos. O suposto espião chegou ao país usando documentos brasileiros, em nome de Victor Muller Ferreira, para tentar entrar no Tribunal Penal Internacional de Haia na vaga de analista júnior.

A polícia holandesa determinou que ele não era um cidadão brasileiro, mas um provável agente do Departamento de Inteligência das Forças Armadas da Rússia. Ele foi considerado um “ilegal” -espião disfarçado no exterior com identidade completamente nova. Tcherkasov foi deportado em 3 de abril de 2022 para o Brasil, onde foi denunciado pelo crime de falsidade ideológica pelo Ministério Público Federal.

Em setembro de 2022, porém, Moscou requisitou ao governo brasileiro sua extradição para a Rússia, onde supostamente era procurado por tráfico de drogas. Como mostrou a Folha de S.Paulo, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, concordou com o pedido, mas condicionou a ida de Tcherkasov a seu país de origem ao encerramento de uma investigação em andamento na Polícia Federal, o que não aconteceu.


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