Sábado, 16 de novembro de 2024, às 22:56:45- Email: [email protected]



Autoridades demoraram tempo demais para soltar brasileiras presas na Alemanha? Entenda

As duas goianas presas há mais de um mês em Frankfurt, na Alemanha, acusadas de tráfico internacional de drogas, foram soltas nesta terça-feira (11), informou o Ministério das Relações Exteriores brasileiro. O caso chamou a atenção pela demora da Justiça alemã em libertar as brasileiras, mesmo com a apresentação de provas contundentes que atestavam a inocência delas. Ao todo, elas passaram 38 dias atrás das grades.

Ainda que possa haver a impressão de uma demora excessiva, ou até mesmo negligência por parte das autoridades em relação ao caso, essa não é verdadeira. Essa é a avaliação de Pedro Egídio, advogado especialista no tema. “O trâmite da cooperação jurídica internacional seguiu todos os passos da melhor maneira possível”, afirma.

A “cooperação jurídica internacional” pode ser entendida como um pedido que um país faz a outro de alguma medida judicial, investigativa ou administrativa para apurar um caso concreto em andamento. A Alemanha pediu ao Brasil que enviasse o vídeo que comprova o crime — a troca das etiquetas das bagagens de Kátyna e Jeanne —, além do inquérito policial.

De acordo com Egídio, processos jurídicos como este podem ser um pouco lentos, a depender da complexidade da obtenção das provas solicitadas na cooperação jurídica internacional. No caso específico das brasileiras, as provas eram de fácil obtenção, mas houve alguns contratempos que dificultaram o trâmite judicial.

Em meados de março, a Polícia Federal (PF) encaminhou aos alemães parte das imagens e do inquérito, mas isso não foi suficiente. Em audiência no último dia 5, a soltura das brasileiras foi condicionada ao compartilhamento e análise de todas as informações em poder das autoridades brasileiras, conforme revelou a rede de notícias alemã Deutsche Welle. A Justiça alemã pediu, ainda, que o envio acontecesse por meio do Ministério da Justiça e do Itamaraty, e não pela PF.

O pedido foi respondido corretamente na quinta-feira (6), mas as informações só foram analisadas nesta segunda (10), quando a Alemanha retomou as atividades do judiciário após o feriado de Páscoa. Finalmente, então, nesta terça-feira, as brasileiras puderam ser libertadas.

Segundo o advogado, Kátyna e Jeanne “muito provavelmente” retornarão ao Brasil “o mais breve possível”. O Ministério Público da Alemanha já solicitou que elas sejam consideradas inocentes e o processo, arquivado. Sendo assim, elas não responderão por nenhum processo na Alemanha nem no Brasil.

Caso deve interferir na diplomacia entre Brasil e Alemanha?

Para o professor de Direito Internacional Sérgio Sipereck, da Facamp (Faculdades de Campinas), não há um problema diplomático neste caso. Ele explica que, para que a diplomacia entre Brasil e Alemanha fosse afetada, teria de haver um tratamento diferenciado sistemático por parte da Alemanha em relação aos brasileiros, o que não acontece.

Sipereck relembra que o Brasil já enfrentou um problema diplomático com a Espanha, por exemplo, há cerca de 15 anos, quando o governo barrava brasileiras que viajam para lá, alegando que elas estariam indo ao país para se prostituir. Nesse caso, o tratamento dizia respeito a todas as mulheres brasileiras, por isso se tornou uma questão diplomática para o Brasil.

O professor acredita que uma questão a ser discutida em relação ao caso de Kátya e Janne é o tratamento que tiveram por parte das autoridades alemãs, e se isso teria algo a ver com o fato de elas serem latinas — uma espécie de xenofobia enrustida. No entanto, não é possível cravar que tenha sido este o caso.

“De toda forma, a história expõe as condições da prisão na Alemanha e as violações de Direitos Humanos ocorridas. Elas relatam ter passado frio, fome e outros tipos de maus tratos enquanto estiveram sob custódia da Justiça alemã”, diz.


spot_imgspot_imgspot_imgspot_img
spot_img


Veja outras notícias aqui ▼