O 1º de maio deste ano é marcado pelo retorno dos trabalhadores e trabalhadoras às ruas após a pandemia de covid-19. Atos agendados em todas as capitais darão a tônica da mobilização por “emprego, direitos, democracia e vida”, bandeira do encontro de 2022. Apenas em Brasília, sete manifestações estão programadas, a partir da manhã, na Esplanada dos Ministérios, na rodoviária do Plano Piloto, e em frente ao Congresso, conforme informações da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal.
A pauta de reivindicações é típica para o período eleitoral marcado por inflação sem trégua, baixos salários e profundas mudanças no mercado de trabalho. Na última semana, um indicador internacional mostrou como está complicada a situação do trabalhador brasileiro, que não para de ver a renda encolher por conta da inflação, que subiu mais de 12% na prévia de abril.
Conforme levantamento da agência de classificação de risco Austin Rating, elaborado a partir das novas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a economia global, em 2022, o Brasil aparece como a nona pior estimativa de desemprego no ano, de 13,7%, em um ranking de 102 países. Essa taxa, inclusive, está bem acima da média global prevista para o ano, de 7,7%. Na comparação com países do G20 — grupo das 19 maiores economias desenvolvidas e emergentes, mais a União Europeia, o país Brasil ocupa a segunda posição no rankig, atrás somente da África do Sul, com taxa de desocupação de 35,2%.
Dados mais recentes mostram que o desemprego no Brasil está estagnado, após atingir recordes recentes no ano passado. No primeiro trimestre de 2022, a taxa de desocupação ficou 11,1%, atingindo 11,9 milhões de pessoas, conforme a mais recente Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílio (Pnad), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No trimestre encerrado em dezembro do ano passado, o contingente de desocupados era parecido, de 12 milhões. Já no primeiro trimestre de 2021, esse número era bem maior, de 15,3 milhões e a taxa de desemprego estava em 14,9%, pico histórico da pesquisa do IBGE.
Pouca reposição
Logo, a redução do número de desempregados é gradual, mas a renda do trabalhador encolhe sem parar e perde para a inflação. A média salarial no trimestre encerrado em março foi de R$ 2.548, dado 8,7% abaixo do registrado em igual período de 2021. Na data-base de fevereiro, 60,5% dos 119 reajustes analisados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) até 9 de março ficaram abaixo da variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que serve de referência para reajustes salariais e para o salário mínimo. São dados preliminares, mas, em termos percentuais, se aproximam do observado em janeiro de 2021, quando foram analisados 2.315 reajustes.
“Os indicadores da economia ainda estão patinando. Esse é um contexto que joga contra as negociações coletivas. O que temos observado é que as categorias mais sindicalizadas estão conseguindo repor, pelo menos, o INPC. É um cenário de muita instabilidade e vai requerer muita atenção dos trabalhadores, que têm de focar no poder de compra”, explica o sociólogo Luís Ribeiro, técnico responsável pelo acompanhamento das negociações do Dieese.
Subutilizados
A população de trabalhadores subutilizada representa um dos maiores desafios nacionais. De acordo com o IBGE, é considerado subutilizado quem está desempregado, que trabalha menos do que poderia, que não procurou emprego mas estava disponível para trabalhar ou que procurou emprego mas não estava disponível para a vaga. Em março, essa população chegou a 26,8 milhões de pessoas, enquanto a população subocupada por insuficiência de horas trabalhadas compreende 6,5 milhões de brasileiros. Juntos, seriam quase 33 milhões de pessoas trabalhando abaixo daquilo que conseguem produzir.
Mais grave ainda, a população desalentada ou aquela que parou de procurar emprego chega a 4,6 milhões de pessoas em idade e condições de produzir e representa 4,1% da força de trabalho.
Desempregada, a professora Elisângela Alvarenga de Souza, 41 anos, natural de Migrante (ES), já pensou em desistir de procurar emprego. Mas a necessidade sempre falou mais alto. “Chegar ao Dia do Trabalho em 2022, pós-graduada, com experiência profissional e sem trabalho é frustrante e, muitas vezes, desesperador, principalmente na segunda quinzena do mês, quando a geladeira esvazia. No mercado de trabalho real — aquele que não é o da plataforma virtual de emprego — mais se fala em demissão do que em contratação. Muitas das ‘novas’ vagas são admissões com menores salários, que se deram em função da demissão de antigos funcionários mais bem remunerados”, relata.
Formalidade
No mercado de trabalho formal, há algumas ilhas de esperança, com 41,2 milhões de trabalhadores atualmente. A construção civil é um dos setores que vem recuperando o ritmo da geração de empregos. Só em 2021, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Previdência, o setor registrou aumento de 150% na geração de novas vagas. Foram, ao todo, 244.755 novos postos de trabalho. Em Goiás, o setor criou quase 9 mil vagas.
Em Valparaíso de Goiás, o setor imobiliário deve garantir bons números neste ano. Somente nas obras do bairro planejado Reserva do Vale, devem ser criadas mais de 700 vagas até dezembro. Um dos trabalhadores recém-contratados é Cleber Almeida, 35 anos, casado e com duas filhas pequenas. Contratado há 40 dias, ele está feliz com o salário de R$ 6,6 mil para atuar como encarregado de obra, após ter ficado desempregado de setembro de 2021 até março deste ano. “Fui trabalhar no Pará. Passei um tempo lá, desempregado. Tenho boas perspectivas com a obra e isso deixa a gente animado”, diz.
De acordo com Marcos Franco, diretor da área de engenharia da Plano Urbano, empresa responsável pelo Reserva do Vale, os investimentos em construção civil são estratégicos. “Grande parte da mão de obra que o setor de construção civil emprega é de pessoas com menor qualificação, que são os que mais enfrentam o desemprego no Brasil”, explica.
Informais
Mas é no mercado informal que reside um dos grandes desafios brasileiros. A taxa de informalidade no primeiro trimestre de 2022 foi de 40,1% da população ocupada, conforme os dados do IBGE. Ou seja, existem 38,2 milhões de trabalhadores sem qualquer vínculo empregatício.
Nesse cenário, o número de empregados sem carteira assinada no setor privado é de 12,2 milhões, enquanto os trabalhadores por conta própria correspondem a 25,3 milhões de pessoas. Esse dado aumentou 7,3% (mais 1,7 milhão) frente ao mesmo período do ano anterior.
Em meio aos debates sobre a precarização do emprego no país, trabalhadores de aplicativos garantiram avanços em meio aos conflitos gerados pela pandemia. Paulo Brezolin, 45, motorista de aplicativo, planeja rodar mais três anos para quitar o investimento que fez para adquirir o carro elétrico chinês, como forma de tentar reduzir os custos com combustíveis.
“A recuperação do investimento, acredito que ainda preciso de mais três anos para reaver. Mas acho que para trabalhar como motorista, o caminho é o carro elétrico. Eu gastava mais de R$ 3 mil por mês e, agora, tenho um carregador portátil”, ironiza o motorista.(Correio Braziliense)
diário da amazônia