Sobrinho de Genivaldo Santos denuncia que agentes ironizaram pedido para que o tio não sufocasse dentro do carro da PRF
O sobrinho de Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos — que morreu asfixiado dentro de um carro da Polícia Rodoviária Federal (PRF), na última quarta-feira, em Umbaúba (SE) —, disse, ontem, ter ouvido uma ironia de um dos agentes envolvidos no episódio. Segundo o relato de Walison, de 28, o comentário jocoso foi feito quando uma parente pediu para que não machucassem seu tio.
“Ele está melhor do que a gente aí dentro”, respondeu um dos policiais, enquanto Genivaldo sufocava ao inalar o gás lacrimogêneo jogado dentro do veículo.
Segundo Walison, Genivaldo tinha problemas psiquiátricos e era inofensivo — em nota, a PRF afirmou que a vítima resistiu à abordagem dos agentes e precisou ser contida. Ele foi abordado na Rodovia BR-101 ao dirigir uma motocicleta. Os policiais pediram que erguesse os braços e, ao revistá-lo, encontraram no bolso de Genivaldo cartelas de comprimidos — que, conforme Walison, faziam parte do tratamento do tio.Genivaldo reagiu à truculência da abordagem. Mas foi derrubado e, no chão, imobilizado. O sobrinho tentou avisar que o tio era esquizofrênico. “Assim que falei com o policial, ele pediu reforço com o microfonezinho preso no colete. Chegou uma moto e mais uma viatura. Foi na hora que começou a tortura”, relatou.
Walison afirmou que Genivaldo recebeu uma rajada de spray de pimenta, além de chutes nas pernas e pisões na cabeça. “Colocaram ele na viatura com a mão para trás. Ele mede mais ou menos dois metros e as pernas ficaram de fora. O policial pegou a tampa da mala e bateu nele”, contou.
Ainda de acordo com Walison, enquanto os agentes pressionavam a tampa da mala contra Genivaldo, um deles jogou a bomba de gás dentro do veículo. Em seguida, o sobrinho escutou a ironia do agente.
“Assim que empurrou a minha mãe, minha cunhada falou: ‘Rapaz, não faça isso não’. Disseram: ‘Ele está melhor do que a gente aí dentro'”. Os policiais responderam, ainda, que tinham perdido dois colegas em abordagens.
“A gente já perdeu dois irmãos de farda. E vamos perder mais um?”, disseram, segundo Walison.
Genivaldo foi levado para a delegacia da Polícia Civil, onde se constatou que estava desacordado, e em seguida ao hospital José Nailson Moura — mas não resistiu. O caso, por envolver agentes federais, deve ser repassado à Polícia Federal.
O velório de Genivaldo foi ontem de manhã, na casa da mãe, no povoado Mangabeira, em Santa Luzia do Itanhy. Ele era casado e deixou um filho de sete anos. (Com Agência Estado. Colaboraram Raphael Pati e Isabel Dourado, estagiários sob a supervisão de Fabio Grecchi)