Uma série de tornados atingiu o sudoeste do EUA na noite de sexta-feira (10) e a situação foi descrita pelo presidente Joe Biden como uma “tragédia inimaginável” e como “um dos maiores eventos de tempestade da história”. Os fortes ventos causaram grandes destruições em seis estados americanos: Arkansas, Illinois, Kentucky, Mississippi, Missouri e Tennessee.
Segundo o professor e pesquisador do Departamento de Geografia do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFPR (Universidade Federal do Paraná), Wilson Roseghini, ainda não é possível cravar com certeza o que pode ter ocasionado o fenômeno, que se deu de forma muito intensa e em uma época do ano considerada incomum para a ocorrência de tornados. Especialistas da área estão analisando dados que foram gerados nos últimos dias e, em breve, o mundo terá respostas mais concretas. Mas, por hora, é possível levantar algumas hipóteses.
“Há uma conjunção de fatores propícia para a ocorrência dessa onda de tempo severo: primeiramente, uma grande área de baixa pressão muito intensa no Centro-Norte dos EUA, que ‘puxa’ os ventos do Norte, perto do Canadá, e do Sul, próximo à região do Caribe. Acontece que, enquanto no Norte há uma massa de ar polar intensa, no Sul temos uma massa de ar quente. O contraste entre essas duas características gerou uma instabilidade atmosférica”, afirma Roseghini.
Há ainda um terceiro fator que também pode estar em jogo: houve o que os especialistas chamam de “ondulação” das correntes de vento, tanto subtropicais quanto polares, que estavam soprando sobre as áreas afetadas. Isso significa que elas não estavam se movimentando em linha reta, mas de forma turva (veja na imagem abaixo). Esse é um processo natural da atmosfera que, isoladamente, pode não implicar em nenhuma consequência, mas, em conjunto com outros fatores, pode intensificar alguns processos.
O professor da UFPR ressalta que, além da intensidade dos tornados, outra característica sobre o fenômeno chamou a atenção dos especialistas: a época do ano em que ocorreu. Normalmente, tornados se formam nas chamadas “estações intermediárias”, isto é, primavera e outono.
Na primavera, por exemplo, há a entrada de massas polares provenientes do final do inverno e, ao mesmo tempo, um ar tropical mais intenso, o que provoca um choque de temperatura e cria um cenário propício para a ocorrência de tornados. Já no verão e no inverno, as condições meteorológicas são mais consolidadas, por isso é rara a formação desse tipo de fenômeno nessas estações do ano.
“Durante o verão, há predominância de calor, de massas tropicais e de umidade. Já no inverno, é o oposto. As características marcantes são o frio, massas polares e ar seco”, diz.
De certa forma, é possível relacionar os tornados que atingiram os Estados Unidos também com o aquecimento global, uma vez que a explicação para a formação da massa de ar quente no Sul do país, perto da região do Caribe, passa pelo aumento da temperatura na superfície do mar na região do Atlântico Norte. Especialistas vêm observando que, há pelo menos três meses, as águas naquela área estão mais quentes do que o normal e já chegaram a marcar até 1ºC acima da média esperada.
R7