Após vivenciar uma forte resistência ucraniana à invasão, o presidente da Rússia Vladimir Putin pode acionar armas nucleares como próximo passo do conflito. Em fevereiro deste ano, o presidente russo ordenou publicamente que o departamento de Defesa do país entrasse em estado de “prontidão especial de combate”, sugerindo respostas imediatas a qualquer nação que ouse interferir em sua operação militar.
Agora, na quarta-feira, dia 21, Putin voltou a fazer ameaças nucleares contra o Ocidente. Como isso poderia impactar a Europa, caso se concretizasse?
A reviravolta no conflito
A crise militar na Europa foi impulsionada após Joe Biden, presidente dos EUA, e outras nações ensaiarem uma interferência no conflito, com aeronaves da OTAN derrubando aviões russos e incitando um ato de guerra esclarecido, com forte potencial para escalada. Mesmo com Putin divulgando uma série de ameaças, nada impediu que Washington e mais governos relativos ao tratado contribuíssem com o sucesso do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky — tudo sem entrar em combate direto com os adversários.
Essas medidas incluem a doação de milhões de dólares em armas — sistemas de defesa aérea e mísseis antitanque avançados — e fornecimento de inteligência de suporte, segundo Scott Sagan, codiretor do Centro de Segurança e Cooperação Internacional da Universidade de Stanford. Rapidamente, os ucranianos conseguiram reverter os ataques russos e forçaram Putin a reavaliar seus objetivos, que visavam “libertar” o Donbas no leste da Ucrânia e possivelmente anexá-lo ao seu território.
Com essa reviravolta, Putin declarou uma “mobilização parcial” de suas tropas nesta quarta-feira (21), renovando ameaças sobre o uso de armas nucleares. Essa campanha é uma resposta a supostos comentários oriundos de nações do outro lado do conflito, que, segundo o presidente, alegaram o uso de armas destrutivas em larga escala contra o país. “Os cidadãos da Rússia podem ter certeza de que a integridade territorial de nossa pátria, nossa independência e liberdade serão asseguradas — enfatizo novamente — com todos os meios à nossa disposição”, disse ele.
Integridade territorial como fator crítico
De acordo com um relatório do Bulletin of the Atomic Scientists, estima-se que a Rússia armazene 4.477 ogivas nucleares. Tais armas só poderia ser usadas em um ataque direto, incluindo a territórios que também foram anexados à nação de Putin. Com isso, entende-se, implicitamente, que qualquer tentativa ucraniana de reconquistar mais espaços pode ser recebida com uma resposta nuclear.
Desde os primeiros momentos do combate, Putin comenta sobre consequências incomparáveis para todos os participantes externos. Dessa forma, países que antes se solicitaram a ajudar a Ucrânia foram dissuadidos a se retirarem e passaram a atuar com hesitação e preocupação, mesmo com nada sendo concretizado. Porém, em termos práticos, apesar do rival de Zelensky não parecer estar blefando, o uso dessas armas teria pouca utilidade prática, teoricamente falando.
Os equipamentos de proporções nucleares são mais eficazes para destruir uma densidade de forças blindadas e intransponíveis — algo inexistente no contexto da invasão. Outra questão seria a forma como esses dispositivos afetariam a infraestrutura local, mas isso poderia garantir um cruzamento do “limiar aceitável”, digamos assim. Dessa forma, um ataque em larga escala prejudicaria a Rússia de várias formas, destruindo acordos negociados e tornando alianças neutras, como no caso da China.
Ameaças que podem se tornar perigosas
As ameaças de Putin, caso se provem verídicas, podem se voltar contra ele mesmo. Apesar de parte da nação clamar por um conflito nuclear, ver os impactos de ogivas e o resultado da destruição em massa pode fazer com que o governo perca sua base de apoio dentro do país, antes mesmo que outros povos respondam.
Historicamente falando, esse movimento “desesperado” também não vem com boas lições e o pós-guerra ensina muitas coisas, como no caso da falha na “bomba conjunta” sugerida pelo ministro da Defesa alemão Franz Josef Strauss, em 1957. Esse acordo contaria com a aliança de Paris e Roma a fim de tornar a Europa independente do guarda-chuva nuclear dos EUA. Porém, a ambição da França e o desenrolar de outras estratégias gerou mais rivalidades do que resoluções, com algumas delas perdurando até os dias atuais.
Apesar disso, quando Putin fala sobre “todos os meios à nossa disposição” ele pode estar pensando em outras opções. Na Síria, o regime apoiado pela Rússia utilizou armas químicas com sucesso, indicando um conhecimento na manipulação de produtos tóxicos. Porém, um impacto militar e nuclear parece ser cada vez menos provável, reforçando tanto o isolamento do presidente quanto as frustrações causadas pela resistência ucraniana.
diário da Amazônia