Sexta-feira, 15 de novembro de 2024, às 17:36:52- Email: [email protected]



Preço do leite está em alta no mundo, mas não incentiva produtor

Alta dos custos e clima seco, que afeta pastagens e produtividade das vacas, reduzem as margens de ganho

Mauro Zafalon / Folha de SÃO PAULO
A oferta mundial de leite continua restrita, o que deverá segurar os preços em patamares elevados. A oferta mundial do produto em pó neste ano é 3,3% inferior à do anterior, e os preços têm alta de 14% na Europa, uma das principias regiões produtoras.

A elevação de preços é ruim para o consumidor, principalmente porque já há uma aceleração de todos os alimentos, mas também não resolve os problemas dos produtores, que estão investindo menos e deverão entregar um volume menor de leite ao mercado.

Leite em prateleira de supermercado na zona oeste de SP – Danilo Verpa/Folhapress
Os preços deveriam incentivar o produtor a elevar a produção, mas uma série de fatores traz dúvidas ao setor. Mesmo com valores elevados, as margens de rentabilidade estão baixas, o que vale tanto para produtores brasileiros como para os das demais regiões leiteiras.

Os custos de produção são altos devido à valorização recente dos grãos, do aumento de energia e dos transportes. Além disso, o clima seco afeta as pastagens.

Neste período de calor intenso, que ocorre em todas as regiões produtoras, a produtividade das vacas cai e o teor de gordura do leite diminui, segundo avaliação dos técnicos agrícolas da Comissão Europeia.

Os principais produtores mundiais deverão colocar 287 milhões de toneladas de leite no mercado neste ano, 1% a menos do que no anterior, segundo o Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).

A União Europeia, que produz 142 milhões, terá uma redução de 2% na oferta. A Argentina será um dos poucos países a elevar a produção, mas o volume do país é de 12 milhões de toneladas, bem abaixo do da União Europeia e do dos Estados Unidos (103 milhões).

Os fatores econômicos também pesam na decisão do setor, ao avaliar um possível aumento de produção. Os custos elevados já estão inseridos na produção, mas a demanda e a renda do consumidor ainda são incertas, devido às perspectivas de uma atividade econômica mundial mais fraca.

Os preços mais elevados impulsionaram os negócios das empresas líderes mundiais. Em 2021, as 20 maiores empresas do setor, um dos mais importantes na área de alimentos, tiveram vendas de US$ 235 bilhões (R$ 1,216 trilhão), 9,3% acima das do período anterior.

As cinco maiores —Lactalis, Nestlé, Danone, Dairy Farmers of America e a chinesa Yili— ficaram com US$ 106 bilhões (R$ 548,7 bilhões), conforme relatório divulgado pelo Rabobank nesta quarta-feira (17).

O Brasil, além dos fatores internos que interferem nos preços, sofre também a influência do mercado externo. Nos últimos 12 meses terminados em junho, as importações brasileiras de lácteos cresceram 17,5%. Já as exportações caíram 59,1%, segundo acompanhamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

A redução da oferta de produto no Brasil fez o preço do leite longa vida acumular alta de 72% neste ano, segundo a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas)


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