Terça-feira, 26 de novembro de 2024, às 04:50:17- Email: [email protected]



RO fraudou número de vagas de UTI para evitar decreto de isolamento, diz MP

 

O objetivo teria sido o de evitar que, por falta de leitos, o estado fosse obrigado
a decretar medidas de isolamento social mais rígidas. Hoje, Porto Velho enfrenta um colapso na saúde pública pelo excesso de casos e precisa transferir pacientes por falta de vagas em unidades.

A denúncia foi feita pelo MP (Ministério Público) estadual, que inicia hoje um inquérito civil público para aprofundar as investigações e apontar os responsáveis pela inclusão dos números nos documentos. O UOL procurou ontem, no fim da tarde, o governo de Rondônia para Os dados incluídos nos relatórios se referem a 30 leitos de UTI e 23 clínicos do Hospital de Campanha da Zona Leste, que foi desativado em 14 de outubro,
ao fim da primeira fase da pandemia. No local, hoje, até existem camas e equipamentos, mas não há médicos para abrir os leitos aos pacientes. Geraldo Henrique Guimarães, promotor e coordenador estadual da força tarefa da covid19 do MP-RO.

Em vídeo divulgado ontem pela assessoria de imprensa, o secretário de
Estado da Saúde, Fernando Máximo, confirma —sem citar local— que possui
leitos que não podem ser operados por falta de profissionais. “Seguimos
aguardando médicos, porque temos leitos de UTI prontos com todos os
equipamentos e demais profissionais aguardando somente os médicos”,
afirma.

Sem medidas de isolamento mais rígidas entre dezembro e janeiro, o estado
viu o número de casos crescer e enfrenta hoje um colapso na rede pública de
saúde. Há ainda fila de espera de pacientes, que aguardam uma vaga em um hospital para iniciar o tratamento. “As adulterações já evidenciadas fizeram
com que perdêssemos tempo precioso para nos prepararmos para o pior”,
afirma Guimarães. O promotor explica que, logo que assumiu as promotorias de saúde no dia 20 de dezembro, detectou que os relatórios diários apontavam mais leitos do que a rede possuía. A partir daí, o MP iniciou um monitoramento dessas
divulgações.

Guimarães conta que, no dia 1º, teve uma “segunda evidência” de que a fraude
no número de leitos estava ocorrendo.
“O promotor de plantão detectou duas ou três pessoas na fila de espera na
madrugada, sendo que no relatório diário apontava a existência de 15 leitos
vagos. Foi quando eu conversei com o secretário [de Saúde, Fernando
Máximo] e falei: ‘Olha, tem alguma discrepância aí. Os leitos que os senhores indicam no relatório diário não estão coincidentes com a realidade.’ Eu
inclusive o alertei da consequência do crime de falsidade ideológica. Eles
estavam adulterando um relatório que poderia levar, de uma hora para outra, o
nosso estado a uma situação caótica, a exemplo de Manaus”, diz.

Fraude seria para evitar medidas
Para o promotor, a fraude teve como objetivo principal evitar que a cidade de
Porto Velho regredisse de fase nas medidas de isolamento. Segundo o plano
estadual de medidas, quanto maior a ocupação de UTIs, mais ações de
isolamento são previstas.

 

“Procurei o secretário de novo e fiz outro alerta: vocês estão adulterando o
relatório para não ter que regredir Porto Velho, ou seja, para não contrariar os
interesses dos comerciantes, dos empresários. Foi quando eu dei um ‘xeque-mate’ neles. Eu falei: os senhores vão responder por falsidade ideológica se continuarem adulterando o relatório”, assegura.

Com os dados de leitos ampliados artificialmente, no dia seis de janeiro o
governo do estado fez uma reunião com seu comitê para reclassificar Porto
Velho —que ali já apresentava alta de casos de covid-19.

No dia seguinte à reunião, diz o MP, o estado corrigiu os dados nos relatórios.
“Eles fizeram isso depois da decisão da mudança de fase. Foi quando eu
percebi e falei: ‘Nossa, isso é gravíssimo'”, conta.

Diante da explosão de novos casos, um decreto com isolamento social
restritivo foi publicado apenas no último dia 16, quando o governo regrediu
Porto Velho para a fase 1. “Antes disso, nós nos reunimos novamente, e eles
regrediram para a fase um após a cobrança do MP. Só que daí já era tarde.

Via Uol


spot_imgspot_imgspot_imgspot_img
spot_img


Veja outras notícias aqui ▼