“Temer prega apenas advertência como solução para as bravatas de Bolsonaro.”
Cuidado!!!!
Você não está lendo uma manchete atual. Ela foi publicada na edição de 26 de maio de 1999, portanto há 22 anos, quando Bolsonaro estava acuado, com medo de perder seu mandato de parlamentar por pregar um golpe. Temer, então presidente da Câmara dos Deputados, montou uma operação com o Centrão e o salvou da cassação. Exatamente como agora. E ainda teve uma carta.
Vamos contar a história com calma. Num domingo à noite, numa entrevista para a TV Bandeirantes, Bolsonaro pregou o fuzilamento do presidente Fernando Henrique Cardoso e o fechamento do Congresso Nacional.
A esquerda e o presidente Fernando Henrique trataram Bolsonaro com o desdém de sempre. Simplesmente ignoraram aquele que viam um deputado do baixíssimo clero sem perspectiva de poder. Hoje, pode-se dizer: um Tiririca Raivoso. Na segunda-feira, a reação veio do presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães, o ACM.
“Não vi a entrevista e não tenho por que ver ver essas loucuras, mas, se o deputado confirmar tais declarações, deveria ter seu mandato cassado “, defendeu ACM.
Pulamos para terça-feira. Temer entrou em campo para salvar Bolsonaro, entre outras razões, para contrariar ACM. Ele achou uma intromissão o presidente do Senado dar palpite no seu território. O corregedor da Câmara, Severino Cavalcanti, foi quem executou a absolvição de Bolsonaro. (Daqui a pouco a gente volta para lembrar quem é esse personagem). A ideia de Temer e Bolsonaro foi a mesma de agora: uma carta salvadora.
No texto da carta entregue a Temer, Bolsonaro se retrata sobre o tom das declarações e pede desculpa pelos excessos. Resumo da história: não houve cassação. Mais curioso ainda é o que relata o repórter Rudolfo Lago, na edição de O Globo de 26 de maio de 1999. “Temer está repetindo exatamente o que já fez há quatro anos o ex-presidente da Câmara Luís Eduardo Magalhães, que advertiu Bolsonaro quando ele também pediu o fechamento da Câmara.”
Luís Eduardo Magalhães era filho de ACM. Já o corregedor Severino Calvalcanti mais tarde se tornou presidente da Câmara. Não completou o mandato porque descobriu-se que ele cobrava propina, um mensalinho de um restaurante que funcionava dentro da Câmara. O então deputado Gabeira, que foi um das vozes mais ativas pela derrubada de Cavancanti. não lembra do valentão Bolsonaro na luta. Gratidão se paga com gratidão.
Dizem que a história se repete como farsa. Mas, no caso de Bolsonaro, se repete como covardia mesmo.
Via G1