Sexta-feira, 15 de novembro de 2024, às 11:31:05- Email: [email protected]



Inteligência artificial do ChatGPT cria nova regra fiscal sem detalhes e objetivos claros

Se a nova regra fiscal brasileira fosse feita pelo algoritmo do ChatGPT, os agentes econômicos teriam dificuldade para entender as diretrizes propostas pelo robô. O R7 constatou isso ao pedir para o programa elaborar um projeto para ser analisado pelo Congresso Nacional, a partir do plano do governo federal, apresentado em 30 de março.

Após a construção do texto feita pela inteligência artificial, o R7 enviou o resultado a cinco especialistas — um cientista político, dois economistas, um advogado tributarista e um professor de direito constitucional. Confira, ao fim do texto, o que a reportagem pediu ao robô e o retorno.

O ChatGPT é um modelo de linguagem de conversas instantâneas criado pelo laboratório de pesqusia Open AI, dos Estados Unidos.

Fora do mundo virtual, a proposta que vai substituir o atual teto de gastos precisa ser aprovada pelo Legislativo para entrar em vigor. O Executivo deve enviar o programa aos parlamentares na próxima semana.

Em linhas gerais, os estudiosos avaliam que o texto escrito pela inteligência artificial pode até fazer sentido, mas é genérico e superficial. Além do caráter vago do projeto, o cientista político André Pereira César, especialista em procedimentos legislativos, aponta que o ChatGPT não apresentou a ementa do texto, requisito básico para protocolar uma proposta no Legislativo.

“Regimentalmente, tem de ter ementa, não importa qual é o formato, se é medida provisória, proposta de emenda à Constituição, projeto de lei ordinário ou complementar. Tem de ter ementa. É uma condição básica. Mas isso até é uma questão menor, na minha avaliação. Seria um ajuste rápido de ser feito”, pondera o cientista político.

O Executivo deve apresentar as novas regras fiscais ao Congresso em formato diferente daquele proposto pelo ChatGPT, conforme explica André César. O robô elaborou um projeto de lei ordinária. “O governo federal, a meu ver, deve enviar um projeto de lei complementar. Pensou-se em um projeto de lei, em medida provisória e em proposta de emenda à Constituição, mas a discussão está se encaminhando para ser, de fato, um projeto de lei complementar. Nesse caso, o quórum é qualificado e elevado, o que dá mais segurança jurídica”, afirma.

segurança jurídica”, afirma.

Advogado e professor de direito constitucional, Antonio Carlos de Freitas Júnior destaca a falta de objetividade no projeto do ChatGPT. “As proposituras são muito genéricas. Apesar de o robô ter modificado o equilíbrio de contas e focado na variação da receita corrente líquida, a proposta não tem sistema sancionatório, nem sistemas refinados de transição e de adequação”, critica.

O economista Hugo Garbe contesta um dos artigos escritos pelo robô e registra que a construção do algoritmo só faz sentido porque o R7, ao fazer o pedido, apresentou os pontos necessários. “O artigo 9º não faz muito sentido. O arcabouço não tem como objetivo primário conter a inflação, mas, sim, limitar os gastos públicos. A redução da inflação é uma consequência. De forma geral, o robô trouxe elementos certos para o tema, uma vez que, na pergunta, já foram dados os elementos mais importantes para a construção da proposta”, destaca.

O também economista César Bergo aponta o mesmo impasse. Bergo ainda questiona o fato de o robô não ter incluído critérios que foram pedidos, como a recuperação do grau de investimento. “É interessante, parece que o chat não acredita nessa recuperação, porque não colocou na proposta dele.”

O especialista, que é professor de mercado financeiro e investimentos na Universidade de Brasília (UnB), argumenta ainda que a inteligência artificial não explicou como os objetivos serão alcançados.

Critérios

Para o advogado tributarista Leonardo Roesler, também falta clareza no projeto construído pelo ChatGPT. Segundo o jurista, o robô usou os tópicos da apresentação do governo federal sobre as regras fiscais e, por isso, a proposta faz sentido. É, contudo, rasa e sem critérios objetivos.


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